Antes que alguém pense que estamos falando de seres mitológicos, vale esclarecer que tratamos de economia.
Unicórnios -sei que é provável que o leitor se remeta à imagem de um cavalo com um único chifre- são empresas start-ups cujo valor de mercado é igual ou superior a US$ 1 bilhão.
Apesar de parecer improvável, segundo dados da VentureBeat, empresa especializada, havia 229 companhias dessa natureza no mundo em janeiro de 2016.
Boa parte destas corporações sequer existiam a 5 ou 10 anos atrás. Segundo a mesma fonte, as maiores, e provavelmente mais conhecidas, são Uber, Xiaomi, Airbnb, Palantir, Snapchat, Dropbox e Pinterest.
A grande maioria das relacionadas, dentre as 229, desenvolveu negócios diretamente vinculados à tecnologia da informação ou se utiliza da tecnologia como eixo central de sua atividade.
É possível que nos próximos anos o número de unicórnios se multiplique. Significa que muitas empresas que ainda não existem, daqui há alguns anos, valerão mais de US$ 1 bilhão.
Da mesma forma que as atuais, não é difícil prever que a próxima geração estará recheada de empresas baseadas em tecnologia da informação.
No Brasil, temos empreendedores e empresas em condições para competir no mercado internacional.
Ainda temos como diferenciais aspectos positivos da nossa cultura, como a alegria, criatividade e facilidade de aceitar a diversidade. Porém, estamos distantes de um ambiente de negócios que possibilite o surgimento de um unicórnio brasileiro.
Em outros lugares do mundo, o empreendedor só precisa encontrar uma boa ideia e transforma-la em um negócio rentável, cuja monetização esteja de acordo com as taxas de retorno esperadas pelos investidores.
No Brasil a história é completamente diferente. Aqui o empreendedor, além dos desafios dos concorrentes globais, se depara com uma excessiva dose de dificuldades.
A antiquada CLT impõe relações de trabalho incompatíveis com o dinamismo requerido nesse cenário.
O excesso de regulações, a inflexibilidade de horários, a falta de liberdade de negociação das relações entre as partes e a pressuposição de hipossuficiência do colaborador criam um clima de quase terror para o novo empreendedor.
Há ainda o custo derivado dos encargos trabalhistas, os mais altos do mundo, que se soma à carga tributária elevada e complexa. Quando a empresa começa a decolar e ultrapassa os limites do regime de tributação do Simples, ingressa em um universo complexo que tira o foco e o sono do empresário.
Mesmo os mais competentes, que conseguem superar esse quadro desafiador, esbarram em outro problema, a ausência da escala global. Temos um mercado interno forte de tecnologia da informação e comunicação, segundo estudo da ABES/IDC, o sétimo maior do mundo, com investimento de aproximadamente US$ 60 bilhões.
Esse montante atrativo faz com que o nosso empreendedor, que já nasceu falando português, continue falando português em seus aplicativos. Para ganhar o mundo precisamos falar inglês no sentido mais amplo da palavra.
Os desafios são grandes, mas a mudança é necessária. As economias baseadas no conhecimento produzem nações com melhor renda per capita, com maior grau de liberdades individuais e democracias mais maduras.
Precisamos compreender essa nova realidade e mudar imediatamente nossas estratégias de país, sob pena de que para nós, brasileiros, unicórnios sejam apenas as criaturas mitológicas.
JEOVANI FERREIRA SALOMÃO, Presidente da Federação das Associações das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação.